quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Por que o estresse leva alguns a explodir

Ninguém quer ser aquela pessoa de cabeça quente que perde as estribeiras com qualquer aborrecimento banal, fazendo os outros se perguntarem: "O que há de errado com ele?".

Mas as pessoas que têm reações extremas ao estresse, desde taquicardia até um ataque de raiva, talvez tenham uma propensão inata para agirem assim, os pesquisadores vêm concluindo. Não se sabe quantas pessoas têm essa tendência a reações extremas ao estresse, mas ela pode durar anos ou a vida toda.

As pessoas que têm essas reações exageradas muitas vezes não conseguem explicar por que um pequeno contratempo em um projeto, ou um pouco de suco derramado por uma criança, pode desencadear uma resposta vulcânica.

"Elas se acham estranhas e se perguntam por que as outras pessoas não reagem assim", diz Lois Barth, um "life coach", ou treinador de desenvolvimento pessoal, de Nova York que trabalha com pessoas altamente reativas ao estresse para que tenham melhor desempenho no trabalho e atinjam seus objetivos pessoais. "Mas muita gente não consegue evitar."

As crianças que crescem em meio a conflitos entre os pais, punições severas ou instabilidade - ou que são criadas por pais ansiosos ou invasivos - muitas vezes desenvolvem durante a vida uma atitude de vigilância diante de ameaças e perigos, segundo um estudo de 2011 da "Neuroscience and Biobehavioral Reviews", baseado em cerca de 400 artigos publicados e revisados por especialistas. Um passado desse tipo pode predispor a pessoa a responder com mais rapidez e veemência ao se deparar com um problema, afirma o estudo.

Uma resposta normal a um estado de estresse inclui aceleração dos batimentos cardíacos e da respiração, seguida por um aumento nos níveis de cortisol, o hormônio do estresse, na corrente sanguínea. Normalmente, dentro de uma ou duas horas depois que a causa do estresse abranda, esses indicadores caem de volta ao nível normal. Mas as pessoas que têm um comportamento "vigilante", altamente reativo, apresentam uma resposta mais intensa e aguda e se acalmam mais devagar.

Algumas se tornam defensivas ou agressivas, enquanto outras sentem medo e se retraem, diz o estudo, chefiado por Marco Del Giudice, professor assistente de psicologia na Universidade de Turim, na Itália. Não se sabe qual percentagem da população é condicionada dessa maneira. Um estudo com 256 crianças, publicado no ano passado na "Developmental Psychology", concluiu que 10% se encaixam no padrão "vigilante".

"Uma pessoa vigilante é hipersensível, reage em um nível biológico e investe mais esforço e energia para se defender de ameaças, reais ou percebidas", diz Bruce J. Ellis, um dos autores do estudo e professor de ciências da família e do consumidor na Universidade do Arizona, em Tucson.

"Compreender que diferentes pessoas são programadas para reagir de forma diferente ao estresse pode ajudá-las a entender seu próprio comportamento e administrar melhor sua saúde, seus relacionamentos e suas decisões", diz Ellis.

Uma reação extrema ou crônica ao estresse, por exemplo, está associada a doenças cardíacas, problemas digestivos e hipertensão.

Mas também pode ser uma reação adaptativa, que ajuda a pessoa a enfrentar bem as ameaças, diz Ellis. Estudos em animais mostram que filhotes de ratos que recebem menos atenção e cuidados de suas mães tendem a ter níveis mais altos de hormônios do estresse e desempenho mais baixo do que os outros ratos quando estão calmos, diz ele. Mas, sob estresse, eles têm melhor desempenho, demonstrando melhor aprendizagem e melhor memória.

Victoria Pynchon passou a infância vendo seus pais brigarem, o que a condicionou a discutir e a se antecipar e reagir prontamente a ameaças, diz ela. Depois de adulta, ela decidiu se tornar advogada de empresas, uma profissão em que a propensão a discutir é uma vantagem, diz Pynchon, de Los Angeles. "Ser combativa, recusar-se a cooperar, responder agressivamente quando alguém está sendo um cretino com você, tudo é parte do jogo." Ela diz que geralmente encara os desafios com raiva, no trabalho e fora dele.

O padrão da reação ao estresse não é imutável, diz Del Giudice. Algumas transições de vida, tais como entrar na puberdade, provocam mudanças hormonais que podem alterar a resposta ao estresse. Além disso, a pessoa pode aumentar ou diminuir a intensidade da reação conforme as mudanças no ambiente.

A maioria das pessoas reativas ao estresse se conscientiza cedo de que passam mais tempo indignadas e nervosas do que as outras. A ansiedade e os problemas de saúde resultantes muitas vezes as lançam em uma busca por remédios. "Elas realmente têm que compreender de que modo foram condicionadas para poder diminuir a intensidade", diz Barth.

Quando Pynchon percebeu, depois de 12 anos trabalhando como advogada, que seu estresse no trabalho estava lhe causando problemas de saúde, ela reduziu o ritmo e começou a escrever textos de ficção para "me reconectar com meu espírito criativo", diz ela. Também encontrou um trabalho mais gratificante como mediadora, e ajudou a fundar a "She Negotiates", firma de treinamento em negociação.

Trabalhando com Judy Martin, consultora nova-iorquina de gestão de estresse, ela começou a se exercitar diariamente e a praticar meditação durante a caminhada ou natação. Em vez de ter uma forte reação quando desafiada, ela faz uma pausa para perceber "o momento - talvez apenas um nanossegundo em que você toma a decisão, se vai explodir ou vai sair de perto", diz Pynchon. "E, cada vez mais, tenho conseguido captar esse momento e fazer algo diferente."

O psicoterapeuta Robert Lawrence Friedman, presidente da Stress Solutions, firma de treinamento e consultoria do Estado de Nova York, ensina aos clientes um método semelhante, de quatro passos, para "pisar no freio", começando por pensar ou dizer em voz alta a palavra "pare". Então, diz ele, a pessoa deve respirar profundamente, se concentrar no que está pensando e, conscientemente, substituir os pensamentos de raiva ou de medo pelo pensamento mais positivo que poderia ter.

Nenhum comentário:

Postar um comentário